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Alejandro Reyes

Mídia Revolucionária: a mídia alternativa no movimento zapatista

Publicado em: Revista Rua – Universidade Federal de São Carlos

por Alejandro Reyes

Em 1994, o surgimento de um movimento guerrilheiro indígena no sul do México, provocou um verdadeiro reboliço na mídia ao redor do mundo. No momento em que muito se falava do “milagre econômico mexicano”, das bondades das políticas neoliberais e do Tratado de Livre Comércio da América do Norte, milhares de indígenas tomavam sete cidades do estado de Chiapas na madrugada do 1 de janeiro e declaravam a guerra ao governo. As propostas inovadoras do Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN)1 e a forma surpreendentemente bem-humorada e articulada de comunicá-las suscitaram não apenas o interesse da mídia comercial, mas o surgimento de um movimento de mídia alternativa – nacional e internacional – com efeitos duradouros na forma de se pensar os meios de comunicação global. Ao mesmo tempo, as comunidades zapatistas rebeldes na selva e nas montanhas do sudeste mexicano, que desde então vêm criando sistemas cada vez mais complexos de autonomia como principal eixo da sua proposta revolucionária, têm desenvolvido audaciosos projetos de comunicação autônoma que incluem rádio, produção áudio-visual, comunicações por internet e outros meios. Neste ensaio falamos desses projetos e das iniciativas de mídia alternativa, no México e no mundo, inspiradas pelo movimento zapatista.

O zapatismo: um movimento “pós-moderno”?

Era a primeira metade da década de 1990, a poucos anos do fim da Guerra Fria, divisor de águas na história e o início do que muitos chamavam, com exaltado otimismo, “a nova ordem mundial” – sob a liderança ideológica de George H. W. Bush e Mikhail Gorbachev -, que supostamente acabaria com os conflitos norte-sul graças à cooperação harmoniosa num sistema capitalista globalizado. Entretanto, na América Latina (e no México em particular) as contradições desse capitalismo globalizado estavam levando ao desespero a milhões de indígenas, camponeses e pobres urbanos, graças à invasão de empresas multinacionais que destruíam as pequenas empresas, à privatização de terras comunais e à entrada de produtos agrícolas transgênicos e industriais que arrasavam a agricultura artesanal.

Mas, como resistir a esses embates, quando as velhas ideologias de esquerda, que impulsionaram as lutas de resistência durante todo o século XX na América Latina, estavam desacreditadas e o campo socialista, desarticulado? Entre o otimismo festivo da direita e a perplexidade da esquerda, parecia não haver mais alternativas.

Isso explica a surpresa – e o entusiasmo – causada pela aparição do Exército Zapatista no 1o de janeiro de 1994, justo o dia em que entraria em vigor o Tratado de Livre Comércio da América do Norte, ponto culminante do suposto “milagre econômico mexicano” neoliberal. Que desvario teria levado a esse bando de índios mascarados a se levantar em armas quando já as guerrilhas estavam tão fora de moda? Quem eram eles? O que queriam? Seriam apenas remanescentes anacrônicos de um tempo extinto ou enunciadores de novas propostas num momento de vazio ideológico?

A mídia nacional e internacional correu a Chiapas e em breve os zapatistas estavam em TVs e jornais pelo mundo afora. Os comunicados escritos pelo Subcomandante Insurgente Marcos (o carismático chefe militar e porta-voz do movimento, com seu olhar penetrante sob a máscara preta e o eterno cachimbo) faziam uma crítica aguda às utopias neoliberais com uma linguagem irônica e bem-humorada, irreverente, cheia de sonoridades do mundo indígena, totalmente distinta dos tradicionais discursos marxistas dos movimentos revolucionários conhecidos até então. Neles se articulava uma proposta igualmente inédita: a criação de um movimento de baixo para cima, sem vanguardas, que não aspirava a tomar o poder, mas à construção de um contra-poder popular, de uma realidade alternativa fundamentada na prática cotidiana da democracia participativa baseada nas autonomias locais e a vinculação solidária com movimentos sociais autônomos ao redor do mundo.

Ao mesmo tempo, surgiu outro fenômeno inesperado. Movimentos sociais e indivíduos de todo o mundo, entusiasmados com as possibilidades da proposta zapatista, começaram a usar a internet (então ainda incipiente) como forma de comunicação e de articulação da resistência global. Alguns intelectuais qualificaram então os zapatistas do “primeiro movimento guerrilheiro pós-moderno” pelo uso das novas mídias como forma de luta, sem se dar conta que não eram os próprios zapatistas que (naquele momento) usavam essas tecnologias, mas a sociedade civil nacional e internacional, que, inspirada por eles, começavam a criar uma rede de mídia alternativa descentralizada. Dalí surgiram experiências duradouras, como a rede de Indymidia, um conceito de mídia popular com importante repercussão em grande parte do mundo.

A comunicação zapatista

Com o levantamento armado em 1994, fazendeiros e latifundiários, que até então exploraram os índios em condições de semi-escravidão, fugiram de Chiapas, abandonando suas terras, que os rebeldes zapatistas “recuperaram” (sendo indígenas maias, as terras lhes pertenciam historicamente, tendo sido usurpadas pelos fazendeiros mestiços). Nesse vasto território eles vêm construindo, nos últimos 16 anos, um complexo sistema de autonomia que inclui um governo próprio (através de assembléias comunitárias, conselhos municipais e “Juntas de Buen Gobierno” regionais), sistemas de educação e de saúde autônomos, mecanismos de produção coletiva e comércio solidário. E, sem dúvida, diversos mecanismos de comunicação autônoma.

“A comunicação [autônoma] é uma demanda e um direito dos povos zapatistas, porque nos demos conta de que todos os meios de comunicação controlados pelo mau governo e pelas grandes empresas, como a televisão, a rádio, os jornais, as revistas e demais, não estão ao serviço dos povos”,2 disse um representante da Junta de Buen Gobierno de Oventik durante o Primeiro Encontro entre os Povos Zapatistas e os Povos do Mundo, em janeiro de 2007, realizado em território zapatista. A comunicação autônoma não é apenas uma estratégia, mas uma reivindicação como direito fundamental.

Em fevereiro de 2002 nasceu Radio Insurgente, la voz de los sin voz, projeto radiofônico do EZLN.3 “Voz oficial do Exército Zapatista de Liberação Nacional”, Radio Insurgente transmite em três regiões zapatistas (Los Altos – as montanhas ao norte de San Cristóbal de las Casas -, na selva tzeltal e na selva da fronteira com a Guatemala), todas em FM, e mais uma em onda curta. Os locutores e locutoras são todos insurgentes, e a programação inclui temas de saúde, educação, direitos, gênero, campanhas contra o alcoolismo, contos para crianças, música, política, comunicados do EZLN, áudio-teatro com temas de resistência e autonomia, etc. Dependendo da região, a rádio transmite em diversas línguas indígenas maias (tzeltal, tzotzil, tojolobal, chol, mam) além de espanhol. A rádio é ouvida com avidez não só pelos próprios zapatistas, mas também por outros grupos indígenas e até por soldados do exército mexicano (parte da programação é frequentes mensagens aos solados e aos paramilitares, com a intenção de sensibilizá-los a não lutar contra os seus irmãos indígenas). Além de Radio Insurgente, um bom número de rádios comunitárias tem surgido em território zapatista nos últimos anos, com propostas similares, mas por iniciativa do zapatismo civil (independente do EZLN).

Em 1998, através de uma cooperação entre os zapatistas e uma parceria de organizações não governamentais do México e dos Estados Unidos (Chiapas Media Project e Promedios de Comunicación Comunitaria), iniciou-se um projeto de treinamento de “promotores de comunicação” em gravação e edição de vídeo. Esse processo levou, nestes 11 anos, ao desenvolvimento de uma vasta produção de documentários autônomos. Nesses vídeos, o domínio cada vez maior da tecnologia e da estética audiovisual combina-se com a visão particular dos povos indígenas zapatistas na representação da sua própria realidade: a luta pela terra, o papel da mulher, a construção da autonomia. Trata-se de materiais tanto internos (muitos deles em línguas maias) quanto os destinados a um público externo, com distribuição internacional através do Chapas Media Project.

Outro mecanismo de comunicação, mais imediato, é a pintura mural que cobre as paredes das construções comunitárias em todo povoado zapatista. Estas obras, de um surpreendente colorido, contam a história da luta zapatista e representam o ideal ao qual aspiram o EZLN e as comunidades. Esta arte mural tem raízes profundas: ela inspira-se na tradição da pintura mural modernista posterior à Revolução Mexicana de 1910, que preencheu edifícios públicos em todo o país como meio de articular os valores (e as críticas) revolucionários da época. Esse movimento teve tal impacto que os artistas chicanos nos Estados Unidos retomaram a tradição e criaram uma arte própria de resistência ao racismo e à exclusão. Mas a arte mural mexicana tem raízes ainda mais profundas. Por um lado, os muralistas (Diego Rivera, Alfaro Siqueiros, José Clemente Orozco e outros) eram parte do movimento modernista e beberam das fontes da arte européia. Ao mesmo tempo, os questionamentos identitários provocados pela revolução os levaram a estudar a arte mural dos maias e dos astecas, resultando numa criação híbrida e única. A arte mural zapatista contemporânea inspira-se em todas essas tradições para expressar a sua própria realidade. Alguns anos atrás, com o apoio de grupos solidários espanhóis, produziu-se um belíssimo livro quatrilíngüe com imagens dos principais murais zapatistas, que se utiliza como ferramenta pedagógica nas escolas autônomas.

Finalmente, para além da rádio, do vídeo, da internet e da arte mural, um elemento fundamental da comunicação zapatista são os encontros com a sociedade civil nacional e internacional, que ocorrem periodicamente em território rebelde, e que se tornam espaços de intercâmbio de experiências e de luta. Neles, a cosmovisão indígena encontra-se com as realidades de outras raças e culturas, numa retroalimentação em muitos sentidos responsável pela continuada vigência das propostas zapatistas.4

A “outra comunicação” –  redes alternativas

Com o levantamento zapatista, surgiram inúmeras iniciativas de mídia alternativa no México e no mundo, utilizando sobretudo a internet, que justamente nasceu no início dos 90. A mais notável dessas iniciativas é a rede de mídia independente Indymídia, que democratiza o acesso à informação e a produção jornalística independente e que hoje tem projetos em todos os continentes do mundo.5

Além da internet, multiplicam-se outras mídias, em particular as rádios comunitárias. No México, elas têm um papel muito importante, sobretudo nas comunidades indígenas e camponesas, mas também nos centros urbanos. Todas estas iniciativas surgem independentemente do EZLN, mas articulam-se entre si conforme a proposta zapatista de vinculação em rede, de forma não hierárquica, de autonomias locais.

Estes meios de comunicação denunciam abusos, violações e repressão por parte dos governos, das forças policiais e das grandes empresas, que não recebem cobertura na mídia comercial. Mas também funcionam como articuladores da resistência e da luta contra os atropelos do capitalismo, compartilhando informações sobre atividades em diversas partes do país e do mundo, análises políticas e novas formas de organização.

Um claro exemplo disso foi a rebelião popular no estado de Oaxaca em 2006. A violenta repressão, por parte do governo estadual, de uma manifestação de professores no centro da capital, em maio desse ano, levou a um levantamento popular de mais de 300 organizações sociais e milhares de indivíduos, que ocuparam a cidade durante mais de seis meses. Durante a ocupação, a luta mais cruenta foi pelo controle dos mecanismos de articulação das reivindicações do movimento.6 Rádios independentes, por um lado, funcionaram como meio de conscientização e articulação da resistência, enquanto a mídia comercial lançava uma campanha de desprestigio do movimento. Grupos paramilitares atacaram as instalações de Radio Plantón, uma das principais rádios do movimento, enquanto ativistas ocupavam as rádios comerciais e inclusive uma estação de TV.

Em novembro desse ano, milhares de tropas da polícia federal invadiram a cidade e intentaram tomar Radio Universidad, que estava em mãos do movimento. Rádios independentes na Cidade do México retransmitiam via internet as transmissões da rádio universitária, que por sua vez eram retomadas por outras rádios em todo o mundo, ajudando a mobilizar protestos em consulados e embaixadas em diversos países. Ao mesmo tempo, Radio Universidad comandava a resistência na própria cidade de Oaxaca, instruindo as pessoas a se movimentar nas diferentes barricadas e informando da posição das tropas policiais. Enquanto, na Califórnia, um grupo de ativistas organizávamos uma manifestação na frente do consulado mexicano em San Francisco, recebemos uma ligação de Roma, onde ativistas zapatistas tinham colocado um caminhão com caixas de som na frente da embaixada mexicana, transmitindo Radio Universidad ao vivo, que nesse momento realizava uma entrevista telefônica com ativistas alemães na frente do consulado em Berlim. Essa impressionante mobilização da mídia alternativa conseguiu, depois de uma longa luta, frear o ataque policial.

A comunicação independente não  é, evidentemente, âmbito exclusivo do movimento zapatista. Ela surge da necessidade de informações e pensamento crítico, no contexto do controle cada vez maior da mídia comercial pelos interesses do capital. Romper o cerco informativo da grande mídia, democratizar a informação, criar espaços para a expressão de vozes silenciadas: esses são alguns dos objetivos da crescente rede de mídia alternativa.

Alguns sites de mídia independente

Alejandro Reyes-Arias é jornalista e tradutor.

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DOCUMENTAL ESPECIAL: La justicia autónoma

Por Alejandro Reyes – Radio Zapatista

Intelectuales, académicos, abogados, representantes indígenas y campesinos y luchadores sociales debaten sobre el estado de la justicia en América Latina y la construcción de una justicia autónoma. (La mayoría de las voces de este documental provienen de entrevistas realizadas en el Encuentro Continental contra la Impunidad y por la Justicia Autónoma (20-21 de junio de 2009) en el Caracol de Morelia, Chiapas.) (Descarga aquí)  Con la participación de:

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El costo humano de un vestido en Los Ángeles

por Alejandro Reyes

Publicado en: Desinformémonos

Localmente se les conoce como “los callejones”: un área colorida y caótica de 90 cuadras en el centro de esta ciudad atiborrada de tiendas de ropa y un sabor inconfundiblemente latino… cumbias, rancheras, reguetón, tortas, piñatas, paletas, jícamas con chile y la infinidad de acentos que tiñen al español de una pluralidad de orígenes. Es el centro de la moda de Los Ángeles y el corazón de la industria de la costura en la costa oeste de los Estados Unidos. Detrás de los aparadores de las tiendas, con sus ofertas de prendas de última moda, existe una realidad sombría: la de la explotación de la mano de obra de inmigrantes que trabajan en condiciones que, en su expresión extrema, llegan a la esclavitud.

En las calles South Los Ángeles y Pico se encuentra el Centro de Trabajadoras y Trabajadores de la Costura (Garment Workers Center – GWC), donde desde el año 2001 trabajadores de esa industria se organizan para resistir la explotación. Delia Herrera, activista voluntaria del centro, explica que la mayoría de los más de 80 mil trabajadores de la costura en Los Ángeles trabajan de 60 a 80 horas semanales con salarios frecuentemente menores que el salario mínimo, sin prestaciones ni pago de horas extras, sin descansos reglamentares, en condiciones dañinas a la salud (problemas respiratorios, infecciones por agujas clavadas en las uñas, enfermedades por falta de higiene), bajo acoso sexual y otras formas de hostigamiento y con la amenaza de despidos arbitrarios y denuncias a las autoridades migratorias.

La mayoría de los trabajadores se une al GWC por necesidades inmediatas, generalmente la recuperación de sueldos robados. Para los trabajadores migrantes, enfrentar a los patrones significa vencer muchos obstáculos: el desconocimiento de las leyes y del idioma, el miedo a ser despedidos, el miedo a ser deportados, la desconfianza en las instituciones. Pero las historias de compañeros que han logrado vencer en sus reivindicaciones inspiran a otros a organizarse. Una vez en el centro, las propias formas de llevar a cabo una demanda construyen un sentimiento de poder colectivo que la mayoría nunca había conocido. “Los trabajadores se asesoran entre sí para saber cuál es la información necesaria. Después se hace una carta de demanda al empleador y varios compañeros van a entregarla. Mientras unos la entregan, los demás nos dispersamos para repartir volantes a los demás trabajadores, para que sepan que con o sin papeles tenemos derechos y que hay que organizarse. Esto les da bastante temor a los empleadores. En la carta les damos cinco días para responder y venir a nuestro comité de negociación aquí en el centro. Los empleadores llegan y estamos de 5 a 30 camaradas reunidos. La mayoría se asusta. Les damos una silla dura y fría, igual a las que los trabajadores tienen que usar. Investigamos también qué otras condiciones de abuso hay en la fábrica, de manera que en la negociación tenemos más herramientas para presionar al empleador.”

Pero más allá de las necesidades inmediatas, los trabajadores y activistas del GWC entienden que lo más importante es crear condiciones diferentes de vida, y que para eso es necesario entender cómo funciona la industria. El centro ofrece un número de talleres para obtener una visión más amplia del funcionamiento y el origen de la explotación: derechos salariales; derechos de salud y seguridad en el trabajo; derechos de organización en el lugar de trabajo; formación de sindicatos independientes; capitalismo e ideologías que lo mantienen (sobre todo cuestiones de género y el “sueño americano”); formas de organización horizontal y participativa.

Al mismo tiempo, intenta vincularse con trabajadores de la costura en otras partes del mundo. “Nosotros pensamos que lo que tenemos que hacer es cambiar la industria de la costura a nivel internacional. Nos conectamos con compas en Tailandia, en las Filipinas, en China. Fuimos a Hong Kong en 2005 contra la OMC. En Los Ángeles hay una diversidad de personas de todo el mundo. Al estar en esta área, podemos ser embajadores para nuestros diferentes países.”

Andrew Ross advierte en No Sweat, una antología de ensayos sobre la explotación en la industria de la costura, que los trabajadores de dicha industria están entre los más afectados por la globalización del sistema capitalista. Las grandes empresas de modas no cuentan ya con fábricas en las que se producen las prendas de principio a fin, sino que transfieren las diferentes etapas de la producción a subcontratistas que pueden estar en cualquier parte del mundo. Esto les permite despreocuparse de las legislaciones laborales y la reprobación de la opinión pública mientras se benefician de mano de obra cada vez más barata. Como es sabido, la industria de la maquila se traslada de país en país en busca de menores precios de mano de obra. El resultado es el enriquecimiento de una minoría a expensas de millones de trabajadores en el mundo. Según Ross, en 1996 el director de Disney ganó 325 mil veces más que los trabajadores haitianos que produjeron las camisetas y demás accesorios para la empresa. Y en 1992 el jugador de basquetbol Michael Jordan ganó más por prestar su nombre a la promoción de los tenis Nike que los 30 mil trabajadores indonesios que los fabrican. Pero las violaciones a los derechos laborales no se limitan a los países del tercer mundo. En los Estados Unidos la creciente criminalización de la inmigración convierte a los migrantes en presas fáciles para la explotación.

Esclavitud en El Monte: un caso entre muchos

Fundado en 2001, el GWC tiene su origen en 1995. Ese año la policía estatal descubrió un taller de trabajo esclavo en el suburbio de El Monte, a 20 kilómetros del centro de Los Ángeles. En lo que por afuera parecía un típico complejo residencial suburbano, 72 mujeres y hombres tailandeses vivían presos, algunos desde hacía siete años, trabajando más de 18 horas diarias, siete días a la semana, en cocheras mal iluminadas bajo la vigilancia de guardias armados y rodeados de alambre de púas y rejas de hierro. Hasta diez de ellos dormían hacinados en cuartos diseñados para dos personas, en peligrosas condiciones de higiene. Bajo constantes maltratos por parte de los capataces y amenazas a sus familias en Tailandia, los trabajadores cosían ropa para varias de las compañías más prestigiosas del país —Tomato, Clio, B.U.M., High Sierra, Axle, Cheetah, Anchor Blue, Airtime, Mervyn’s, Miller’s Outpost, Montgomery Ward— muchas de ellas vendidas también en tiendas de departamento tan conocidas como May, Nordstrom, Sears, Target y otras.

La detención de los ocho capataces presentes y la “liberación” de los 72 trabajadores esclavos recibieron amplia cobertura mediática. Mucho menos visible, sin embargo, fue el destino de los trabajadores, en su mayoría mujeres, todos migrantes indocumentados. Después de años de esclavitud, los trabajadores supuestamente liberados fueron detenidos inmediatamente por las autoridades migratorias y encarcelados en una celda común, de donde sólo salían encadenados con grilletes para cuestiones administrativas y entrevistas. Fue sólo gracias al trabajo de activistas de Sweatshop Watch, una coalición que agrupaba organizaciones obreras, comunitarias, de inmigrantes, de mujeres y abogados, que se logró la liberación de las y los tailandeses, que de otra forma hubieran sido deportados después de una larga detención.

Este caso sacó a la luz no sólo los extremos a los que llega la explotación en la industria de la costura en los Estados Unidos, sino la estrecha relación entre esa explotación y la criminalización de la inmigración. Julie Su, una de las fundadoras de Sweatshop Watch, observa en un artículo sobre el caso que, ante la amenaza de encarcelamiento y deportación, los trabajadores indocumentados no tienen ningún incentivo para denunciar ni los peores abusos. El caso también demostró la necesidad de responsabilizar no sólo a los propios talleres, sino a las grandes empresas de moda y a las tiendas departamentales que de hecho controlan el proceso, y que se escudan tras un supuesto desconocimiento de las condiciones laborales de los subcontratistas. Uno de los principales ejes de lucha de organizaciones de la industria de la costura, incluyendo al GWC, es lograr cambios en las legislaciones que responsabilicen a dichas empresas.

Los activistas que trabajaron en el caso de El Monte concluyeron con el tiempo que era importante que existiera un espacio donde los propios trabajadores pudieran organizarse. En 1999 Sweatshop Watch organizó una serie de reuniones con trabajadores de la costura, incluyendo los trabajadores tailandeses de El Monte y trabajadores latinos de talleres relacionados a la misma red de explotación. De esas reuniones surgió, dos años después, el Centro de Trabajadoras y Trabajadores de la Costura.

Son muchas las dificultades que los trabajadores de esta industria enfrentan para formar un frente unido ante la explotación. Delia Herrera explica que, además de la fragilidad creada por la criminalización de la migración, el propio sistema crea y promueve divisiones en la clase obrera. Una de ellas es la de la raza, particularmente entre latinos y asiáticos, que compiten por empleos y recursos. Hay también divisiones, fomentadas por los empleadores, entre trabajadores documentados e indocumentados. Y finalmente divisiones de género, en una industria en la que prevalece el acoso sexual. El GWC intenta romper estas divisiones a través de pláticas, talleres y, sobre todo, la convivencia comprometida. Las y los trabajadores se asesoran unos a los otros y participan en actividades conjuntas, y eso crea un espíritu de solidaridad. “En una ocasión hicimos un simulacro de que llegaba la migra y la policía juntos. Fue una experiencia muy fuerte porque muchas compas han sido violadas sexualmente al pasar la frontera, han sido detenidas, robadas, o las ha agarrado la migra en la calle. Así empezamos a trabajar con nuestros propios traumas y a compartirlos con los demás.”

Desde su fundación, el centro ha recuperado millones de dólares en salarios robados y ha tenido victorias importantes contra empresas como Forever 21, contra la cual realizó un exitoso boicot nacional de tres años. Pero quizás lo más importante ha sido el haber logrado generar una conciencia colectiva nutrida por la experiencia de ocho años de lucha y una larga historia de resistencia en la industria de la costura.

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Spot promocional de la película Corazón del Tiempo

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La otra campaña y la lucha de clases de las trabajadoras sexuales en México

Audios de la presentación del libro “La otra campaña y la lucha de clases de las trabajadoras sexuales en México”, presentado el viernes 17 de julio en el Rincón Zapatista por la Brigada Callejera de Apoyo a la Mujer “Elisa Martínez”.

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