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Por Célia Reis

(Leia en português embaixo)

Poema “Mães de Maio” em português: (Descarga aquí)  

Poema “Madres de Mayo” en español: (Descarga aquí)  

En enero de 2006 me mudé con mi familia a la capital del estado de São Paulo, Brasil. En mayo de ese año, más de 500 jóvenes de las periferias fueron asesinados en matanzas realizadas por grupos de exterminio, con sospechas de participación de agentes de seguridad pública del Estado de la Policía Militar.Una verdadera masacre contra la sociedad civil, un crimen de Estado, según las Madres de Mayo (formado por familias de jóvenes asesinados) y de muchos otros.

Hablo de los Crímenes de Mayo, como son conocidos, vinculados a los atentados del Primer Comando de la Capital (PCC), una facción criminal que nació en los presidios de São Paulo, como reacción, entre otras cosas, a la llamada Masacre de Carandiru, en la que fueron asesinados 111 presos por la Policía Militar del Estado de São Paulo en 1992. El PCC atacó bases policiales, delegaciones y otros agentes identificados como responsables por la seguridad pública, resultando en la muerte de 59 personas, entre policías, bomberos, carceleros y otros. Eso causó pánico en la ciudad de São Paulo, lo cual en su ápice, entre rumores y noticias de ataques, hizo que todo el comercio, la industria, las instituciones públicas y las escuelas cerraran sus puertas, decretando un toque de queda informal el 15 de mayo. Hasta mi escuela despidió a todos los alumnos, profesores y funcionarios. Eso provocó un caos en la ciudad, con personas tratando de regresar a casa aterrorizadas, con miedo de ser víctimas de un posible ataque.

Pero fueron las familias de las periferias las que más sufrieron en ese episodio, pues la acción de grupos de exterminio con fuertes sospechas de participación de policías militares, cuando no la acción directa de la propia PM, durante diez días de retaliación, acabó con la vida de jóvenes de forma indiscriminada, produciendo una estadística macabra de 564 muertes.
De ahí surgió el movimiento Madres de Mayo, cuyas familias tuvieron a sus hijos muertos en esa acción impensable. Indignadas, acudieron a la justicia, acusando al Estado de responsabilidad por esa masacre. Desde entonces, bajo el lema “del luto a la lucha”, han estado denunciando los Crímenes de Mayo, exigiendo que sean investigados, que los culpados sean juzgados y condenados y que las familias sean indemnizadas. El movimiento se volvió así una referencia en la lucha contra los crímenes de Estado.

En ese andar, en 2008 participaron también en el Tribunal Popular “El Estado brasileño en el banco de los acusados”, realizado en la Facultad de Derecho de la Universidad de São Paulo, con la participación de varias entidades de movimientos sociales y derechos humanos. En el local donde se llevó a cabo el tribunal, la exposición de fotos de los jóvenes víctimas de las matanzas de mayo de 2008 impactaba. Pancartas afirmaban que se trataba de crímenes del Estado contra la sociedad civil, periférica, negra y pobre. Cada rostro representaba familias, comunidades, barrios, regiones. La representante del movimiento Madres de Mayo en ese tribunal denunciaba y compartía los detalles crueles, absurdos, de lo sucedido, así como la repercusión para las familias, tornando vivo el grito: “¡Nuestros muertos tienen voz!”.

Frente a esos rostros, tan jóvenes, en su mayoría negros, y las palabras de las Madres de Mayo sobre sus dolores por esas pérdidas, sobre cómo perdieron a sus hijos, decidí escribir un poema dedicado a ellas. Sobre todo recordé esos hechos y el poema cuando supe de la desaparición de los 43 normalistas mexicanos en Iguala, México, en 2015. También una tragedia para sus familias y para la sociedad mexicana. Su grito: “¡Vivos se los llevaron, vivos los queremos!” resuena con el de muchas familias en América Latina. Por eso declamo Madres de Mayo:

Madres de Mayo

Madres de la alegría de ver a su niño nacer
De atención y cuidados para que el pequeño pueda crecer
Del dolor y aflicción de ver a su retoño enmudecer
Por la furia de un sistema en cólera
Que no preguntó quién fue, quién era
Juzgó y condenó sin razón
Atropelló la emoción
Borró del rostro la sonrisa
Impuso lágrimas y gritos
Por ver al hijo fallecer
Sin tiempo para florecer

– Célia Reis


“Do luto à luta”, pois “nossos mortos têm voz”

Em janeiro de 2006 me mudei com minha família para a capital do estado de São Paulo, Brasil. Em maio desse mesmo ano, mais de 500 jovens das periferias foram assassinados em chacinas realizadas por grupos de extermínio, com suspeita de participação de agentes de segurança do Estado da Polícia Militar. Um verdadeiro massacre contra a sociedade civil, um crime de Estado, na visão das Mães de Maio (formado por famílias de jovens chacinados) e de muitos.

Falo dos crimes de Maio, como são conhecidos, ligados aos atentados do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma facção criminosa que nasceu dentro dos presídios paulistas, em reação, dentre outras razões, ao chamado Massacre do Carandiru, quando foram mortos 111 presos pela Policia Militar do Estado de São Paulo, em 1992. O PCC atacou bases policiais, delegacias e outros agentes identificados como responsáveis pela segurança pública, resultando na morte de 59 pessoas, entre policiais, bombeiros, carcereiros e outros. Isto causou pânico na cidade de São Paulo, o que em seu ápice, entre boatos e notícias de ataques, fizeram com que quase todo o comércio, indústria, repartições públicas e escolas fechassem suas portas, decretando um toque de recolher informal, no dia 15 de maio. Até minha escola dispensou todos, alunos, professores e funcionários. Isso causou um caos na cidade, com pessoas tentando voltar pra casa, apavoradas, com medo de serem atingidas num desses possíveis ataques.

Mas foram as famílias das periferias quem mais sofreram neste episódio, pois a ação de grupos de extermínio com fortes suspeitas de participação de policiais militares quando não da ação direta da própria PM, durante dez dias de retaliação, deu fim à vida de jovens, de forma indiscriminada, produzindo uma estatística macabra de 564 mortes.

Daí surgiu o movimento Mães de Maio, cujas famílias tiveram seus filhos mortos nessa ação descabida. Indignadas, acionaram a justiça, acusando o Estado de responsabilidade por esse massacre. Desde então, sob a insígnia “do luto à luta”, vem denunciando os crimes de Maio e para que sejam apurados, os culpados julgados e condenados; e que as famílias sejam indenizadas. Tornando-se referência na luta contra crimes de Estado.

Nessa caminhada, em 2008 também participaram do “Tribunal Popular, o Estado Brasileiro no Banco dos Réus”, realizado na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo, envolvendo várias entidades de Movimentos Sociais e Direitos Humanos. No recinto, onde acontecia o julgamento, a exposição de fotos dos jovens vítimas das chacinas de Maio de 2006 impactava. Faixas afirmavam que se tratava de crimes do Estado contra a sociedade civil, periférica, negra, pobre. Cada rosto representava famílias, comunidades, bairros, regiões. A representante do movimento Mães de Maio nesse tribunal denunciava e partilhava os detalhes cruéis, absurdos, do ocorrido, assim como a repercussão para as famílias, fazendo valer o grito: “nossos mortos têm voz”.

Diante daqueles rostos, tão jovens, em sua maioria negra, e da fala das Mães de Maio sobre suas dores por essas perdas, a forma como perderam seus filhos me levou a construir um poema dedicado a elas. Sobretudo me lembrei destes fatos e do próprio poema quando soube do desaparecimento dos 43 jovens estudantes mexicanos em Iguala, México em 2015. Também uma tragédia para suas famílias e a sociedade mexicana. Seu grito: “Vivos os levaram, vivos os queremos”, coaduna com o de muitas famílias na América Latina. E por isso declamo Mães de Maio:

Mães de Maio

Mães da alegria de ver o seu menino nascer
Da atenção e cuidado para o pequeno crescer
Da dor e aflição por seu rebento emudecer
Pela fúria de um sistema em cólera
Que não perguntou quem foi, quem era
Julgou e condenou sem razão
Atropelou a emoção
Tirou do rosto o sorriso
Impôs lágrimas e gritos
Por ver o filho morrer
Sem tempo de florescer

– Célia Reis